quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Deixar o essencial.


E depois de muito tempo as idéias vieram. Dessa vez sem choramingos ou coisa parecida. Agora escrevo sobre as coisas boas que estão dentro de mim, as lembranças boas das férias. Do calor, do sol e da chuva. Da chuva que veio pra lavar - literalmente- esta pobre alma surrada, e do sol que veio forte, grande e inesperado pra aquecer e secar os vestígios deixados por ela.

Se guardo o sol, guardo também a lua. Uma lua diferente, alaranjada, quase como se quisesse ser o sol. Uma lua que transbordava calor. Havia também uma suave maresia que tocava meu rosto e me lembrava a todo momento que eu estava acordada e feliz. Incrivelmente feliz. Não conseguia parar de sorrir, por isso era impossível falar qualquer coisa coerente. Ouvir sempre foi a minha maior qualidade.

Pela luz de leitura do ônibus é possível ver a Usina do Gasômetro que passa pela janela. Percebo que deixo para trás mais uma vez tudo aquilo que me faz feliz, mais feliz do que eu já me senti nos últimos tempos. Dane-se, não há como falar dele. A paixão platônica de verão que há muitos veraneios me inunda de sentimentalismo piegas de que tanto gosto. São breves momentos vividos em tão curto espaço de tempo, mas que tem mais importância do que qualquer outro relacionamento mais duradouro que acontece durante as estações.

O abraço, as mãos e o perfume. O beijo. Levo sempre comigo, como lembrança daquela noite à beira mar sob o luar, com gostinho de despedida, com a conversa mais longa. Sentimentalismo caro, não sentimentalismo barato... esse eu deixo para o restante do ano. O verão é sagrado.

Já estou aqui há algum tempo, pensando que poderia ter durado mais ou que eu poderia ter aproveitado mais. É fácil se acostumar com o gostoso, com aquilo que é bom. Provar só um pouquinho já é suficiente.

As cidades passam uma a uma, me levando cada vez pra mais perto do meu mundo provisório e deixando o coração encharcado de alegrias, saudades e distância. Agora posso tirar as lentes que me mantinham segura , porque a chuva já chegou pra levar mais uma vez de mim o superficial e deixar o essencial.